Psicanálise -

26 de setembro, 2023

A voz interior

"A boca fala do que o coração está cheio" - Ditado popular. Me disseram que esse ditado também está presente na bíblia cristã. Fui checar e realmente estava lá em "Mateus 12:34".

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"A boca fala do que o coração está cheio" - Ditado popular.

Me disseram que esse ditado também está presente na bíblia cristã. Fui checar e realmente estava lá em "Mateus 12:34".

Mas o que entender por isso? Uma analisante me confessou na sessão de hoje que possui uma voz interior um tanto questionadora, crítica e ditatorial que regula sua conduta, mas que também a distrai.

Essa voz interior, espontânea e rebelde, ecoa quase que incessantemente em sua consciência, por vezes intensificando-se e multiplicando-se. Nessas ocasiões, se comportar e filtrar essa voz exige um considerável esforço. E quando o sujeito não é mais capaz de empreender tal esforço de filtragem dos pensamentos, autovigilância e autorregularão, ele reproduz verbalmente seu fluxo de pensamentos assim que lhe ocorre, quase que sem qualquer retificação.

É importante reconhecer que de tempos em tempos precisamos nos recolher, ficar sozinhos, dar vazão à essa voz interior e deixá-la escoar para não nos exaurirmos tentando suprimi-la.

A voz interior é primordialmente determinada pelo inconsciente, e sua verbalização está, portanto, atrelada à noção de associação livre de ideias.

Sendo assim, são corriqueiras as situações em que alguém censura e critica o outro em decorrência de já ter feito isso consigo mesma. Se alguém acusa o outro de "Irresponsável! Inútil! Mesquinho" sem que isso se baseie em evidências concretas ou razões plausíveis, é muito provável que ela esteja projetando no outro aquilo que ao mesmo tempo reconhece e nega em si mesma.

- Ora, como podemos, sendo maus, dizer genuinamente coisas boas?

Além disso, não existe negativa no inconsciente, então toda vez que alguém repete, espontânea e reiteradamente coisas como "não sou ciumento", "não me importo com dinheiro" ou "jamais pedirei sua ajuda", podemos interpretar isso como um sinal de que se trata de alguém com problemas relacionados a ciúmes, alguém que se preocupa consideravelmente com dinheiro ou alguém que gostaria de contar com sua ajuda.

Assim como o esbanjador é uma formação reativa que busca suplantar, negar e apagar experiências relacionadas à privação e miséria, o sujeito de discurso depreciativo, ofensivo e julgador no fundo deprecia, ofende e julga a si mesmo, tal como a amargura expressa em sua fala reflete a amargura de seu coração naquele momento.

Dr. Róbson Batista - Psicólogo | Psicanalista

Dr. Róbson

Estudioso de história do pensamento ocidental, estética filosófica, literatura, ética e psicanálise.

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